terça-feira, 16 de junho de 2009

A verdade nua e “crua”


As férias haviam acabado há alguns dias, mas eu ainda estava em casa. Consegui convencer minha mãe de que estava com alguma virose mas eu sabia que logo ela perceberia e eu teria que ir pra escola. Eu não queria encarar aquela situação, depois da Lívia saber de tudo o que eu sentia por ela. Eu conheço bem as garotas. Elas sempre têm melhores amigas que tem melhores amigas e por ai vai. Com certeza toda a sala sabia do ocorrido. Bem, não havia mais nada a fazer a não ser ir para escola.
O Mário havia guardado um lugar para mim perto dele e cada passo meu ao entrar na sala era seguido de um comentário: “Shakespeare apaixonado”, “Lá vem o negão cheio de paixão”, “Viado”. Falem bem ou falem mal o que importa é que estão falando... Ditado estúpido!
Fui me sentar e dei uma boa olhada na sala. Havia rostos novos e muita gente da antiga turma 135. Estava lá agora a 235. Na carteira atrás de mim havia um cara chamado Tiago, repetente gordinho e tinha algo que um dia se tornaria um bigode.
Ele me chamou e disse:

-Você é o William?
-Sim.
-Hahahahahaha!
-Do que esta rindo?
-Cara, você não pode mandar cartas você tem que chegar de jeito sacou?
Meu Deus quem não tinha conhecimento do ocorrido? E o que é chegar de jeito?
-Não saquei não.
-Chegar de jeito cara você sabe.
-Não eu não sei.
Por que as pessoas insistem em querer ensinar coisas que não compreendem?
-Eu vou te mostrar. Me observe ainda nessa semana eu te mostro.
Mal se passaram dois dias e via ele conversar sempre com a mesma garota durante o recreio, e então entre uma conversa e outra ele foi se aproximando e a beijou. Apesar dele ser bem feio a situação tinha melhor aparência de que quando vi o Ladislau beijar a Ana Paula (no texto "Ainda no ponto de ônibus").
O Tiago parecia saber o que estava fazendo e eu sabia que eu não saberia fazer aquilo. Essa era a verdade. E então algo me ocorreu: e se eu fosse conhecido, fosse popular, será que seria mais fácil? Será que assim minhas chances seriam razoáveis? Por que não tentar? Mas o que um garoto de 11 anos poderia fazer? Não sendo bom o suficiente nos esportes, não sendo sequer bonito e nem intimidador? Coloquei em prática uma idéia absurda. Já que a carta que mandei para Lívia causou tanta repercussão resolvi enviar mais cartas, não para a Lívia, mas sim para outras garotas. Logo descobri outra coisa sobre mulheres: elas competem por qualquer coisa.
Eram apenas cartas que não diziam nada apenas palavras avulsas e foi necessário apenas três. Enviei para a Pollyanna amiga da Lívia, outra para a Grace a garota bruxa e outra para uma garota chamada Stéfanie. Garotas de grupos diferentes.
Então a maioria das garotas começaram a questionar por que não ganharam cartas e logo meu nome não saia da boca delas. Diziam que eu era legal, que as compreendia. Me chamavam pra fazer trabalhos com elas, traziam lanches para mim, me apresentavam à garotas e questionavam quem eu gostaria de namorar, e bem, a resposta sempre a mesma: Lívia. Alguns garotos que eu não conhecia chegavam de vez em vez para dizer:
-Você podia me apresentar aquela garota parceiro?!
Nada disso adiantou. A verdade é que a Lívia parecia mais distante. O Mário me chamou na aula de história e disse:
-Por que você não conversa com a Lívia?
-E dizer o que? Que gosto dela?
-... É.
O Mário não compreendia as coisas. Eu não podia simplesmente chegar e dizer o que sentia. Eu via filmes, seriados e até mesmos nos livros, sempre o homem tem algo a oferecer. Mas enquanto a mim nada tinha a oferecer. Qual a minha relevância naquele meio? A verdade é que eu não era ninguém. Percebi que convivi com pessoas muito populares como o Aloísio e o Marcelo e eles tinham algo que me faltava, e esse algo era um grupo. Sempre havia pessoas com eles os ouvindo ou somente andando. Somente o Mário andava comigo e o Mateus falava sobre desenhos. Precisava de reforço.
Nesse momento percebi a presença de alguém na sala. Há quanto tempo ele estava ali? O cara parecia uma máquina, sempre estava estudando. Nunca o vi falar com ninguém ou praticar algum esporte. Sempre lá estudando. Sentava exatamente no meio da sala. Perguntei ao Mateus o nome dele (Mateus sabia o nome de todos, ele se desenvolveu bem na arte da política na escola). Se chamava Lucas. No fim da aula fui conversar com ele, havia ainda algumas garotas na sala e o Mário me esperava na porta.
- E ai?
-...
-Lucas não é?
-...
Qual o problema desse cara? Será que era mudo ou especial? Fiquei lá e tentei, mas nada veio dele nem um olhar de reprovação, era como se eu não existisse. O Mário gritou da porta:
- Eu tenho que ir William, a Stela vai fechar a biblioteca!
-Aquela mulher parece um cachorro velho e você o Carlton! (primo do Will no seriado Um Maluco No Pedaço)
Gritei para o Mário isso e vi o Lucas rir. Então eu disse:
-Te vejo amanhã.
-Amanhã não tem aula.
O senso de humor se fora assim como veio e a sua voz era fria e objetiva. Respondi:
-Eu disse... Nos vemos na segunda-feira.

domingo, 7 de junho de 2009

Um demônio chamado Recuperação e um Anjo chamado Alívio

Eu andava pra lá e pra cá pela escola descobrindo sempre algo novo, sempre nos horários errados, o Mário já tinha me avisado que eu poderia acabar em recuperação, mas sempre gostou de ouvir sobre minhas caminhadas. Certo dia estava progredindo na incrível arte de matar aula no pátio da escola e então começou a chover me escondi embaixo da escada, e como no salão nobre, eu já havia passado por ali antes, mas nunca estive ali sozinho. Uma visão que certamente muitos tiveram estava ali só para mim naquele momento deixe-me levar e a escola parecia velha e cansada o pátio começou a encher de água e se tornou uma espécie de espelho disforme, foi quando tive a grande luz: Se eu ficar em recuperação ou tomar bomba minhas chances com a Lívia seriam igual a zero. Sem contar que minha mãe tiraria minhas entranhas com gritos. Fiquei ali parado pensando, a chuva parou, mas água continuou lá parada e tudo se tornou nítido. Corri para sala. O professor me perguntou:
-Onde estava?
-Na biblioteca.
-...
-...
-Vocês deviam aprender com ele!
Fui me sentar e vi a Lívia sorrir, eu tive medo de não passar de ano. Ainda faltavam algumas provas a serem aplicadas e alguns trabalhos para apresentar, o Mário me ajudaria com os trabalhos, mas quanto às provas estaria só. Minha vida virou um inferno uma corrida contra o tempo começou, foi quando algo muito estranho aconteceu. Estava no meio da aula de matemática com um professor chamado Joilton, eu estava preocupado, ciências exatas nunca foi a minha área, foi quando me distrair e percebi que havia algo escrito na parede com letras bem pequenas que dizia: “Fica assim não, eu já passei por isso”. O que diabos significavam aquelas palavras? Alguém estava brincando comigo? Só o Mário sabia da minha atual situação e ele não era ardiloso assim. Resolvi responder e escrevi de lápis: “Eu ficarei bem”.
Em casa já certo de que iria tomar bomba e na pior das hipóteses sairia da escola resolvi escrever uma carta para Lívia dizendo o que sentia por ela dizendo o quanto cada sorriso seu mesmo que não sendo direcionado a mim me fazia sentir bem, resolvi contar a ela que desde o dia em que ela entrou na sala me encantei.
A aula de artes começou e meu Deus a tentação de matar aquela aula era maior do que eu, e então cai no vício. Voltei assim que o sinal tocou, percebi que haviam respondido na parede e dizia: ”Estarei aqui se precisar”. Aquilo me assustou. Mas não mais do que a carta que escrevi para Lívia, quase me apaixonei por mim mesmo, parecia que uma garota havia escrito tudo aquilo. Decidi apenas estudar e tentar me salvar.
Os dias de aula estavam chegando ao fim foi quando três acontecimentos inesperados ocorreram. O primeiro foi que o demônio da recuperação foi abatido, passei com êxito, como eu não sei, mas não importava. O segundo foi a visita do alívio que foi muito bem recebido. O terceiro e com maiores conseqüências foi que no último dia de aula o Mário me ajudava com meus livros que tínhamos que devolver a escola, todos da sala em fila na porta da biblioteca e então a tal carta com o nome da Lívia caiu do livro de Matemática o Mário pronunciou:
-isso é da Lívia?
Antes que eu pudesse me posicionar o primo da Lívia o Mateus surgiu e disse:
-Eu entrego.
Verbalizando e agindo ao mesmo tempo, quando dei por mim a carta estava nas mãos dela não havia mais nada a se fazer nos veríamos no próximo ano.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Uma breve pausa


Quero aqui agradecer primeiramente ao Cientista Espacial por estar desde o inicio acompanhando e se divertindo tanto com essas histórias do Pedro II, logo continuei a escrever, em seguida a Cetos que sempre apoiou a idéia, também vale para Sem propósito comum e Raphaela de Oliveira que ainda não conheço. Obrigado Pelirroja, Kamila Costa e finalmente a Laíza que me convenceu a fazer este blog, os amigos que cito no texto de introdução são Cientista Espacial e Laíza. Enfim obrigado mesmo, e sim não me esqueci daqueles que lêem e postam seus comentários como Lucas, Bellinha, Glau e Melissa, e também aos que pedem para não publicar o nome, mas sempre ajudam por e-mail ou msn sempre acompanhando. Muito obrigado.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Aposto que sua escola não tinha um lugar assim.


Não falta muito para o ano letivo terminar, eu estou feliz por conhecer tantas pessoas. A uma garota seu nome Ana Clara, ela é o que chamamos de pessoa grande, poucos conversavam com ela, mal sabiam o que estavam perdendo, Mário e eu nos divertíamos muito era engraçada e confiável foi a primeira garota que contei estar atraído pela Lívia.
No recreio cada um seguia seu caminho os que tinham dinheiro se dirigiam para a lanchonete e os que não tinham se dirigiam para o refeitório, outros disputavam os bancos no pátio e outros iam caminhar e fazer o que chamo de política na escola, passavam nas salas que tinham alguém conhecido e cumprimentava todos depois seguia para próxima sala e assim por diante. Mário sempre ia para o refeitório eu o acompanhei por muito tempo até desistir, a fila tomava a metade do tempo do recreio e a comida nem sempre era boa, quando desistir tentei convencer o Mário do mesmo, mas ele não desistiu dava um valor muito alto para a atividade comer. Tornei-me um andarilho, andava por ai, pelos corredores, pelas turmas de outras séries até que descobrir algo interessantíssimo. Eu já havia entrado ali antes para algumas aulas e palestras, mas nunca estive lá sozinho. O lugar: Salão Nobre. Um enorme salão que parecia estar vivo, ha candelabros por toda parte, dois quadros muito grandes que pareciam me observar com repreensão por estar ali sem autorização e mais dois quadros pequenos que pareciam sofrer um velho piano e no teto algo que parecia estar tampando uma figura uma grande figura (tal figura é mostrada na foto postada acima, na minha época o salão já não era exatamente assim, mas retrata bem o clima e a sensação do dia que estive lá). Como fiquei feliz agora além do laboratório eu tinha outro lugar o Salão Nobre. Estava voltando para sala faltava pouco tempo para o recreio acabar, tinha correr ia ter aula de inglês com a professora Betinha, ela fazia o verbo to be ser maravilhoso, foi quando escutei o Felipe fazer alguma piada sobre a Ana Clara, eu não sei como ela ouviu, ou se podia ler lábios ou talvez aquilo já estivesse ocorrendo antes, mas ela estava no outro lado do pátio e percebi quando ela começou a correr, percebi a tempo de avisá-lo, todos somos heróis e vilões, e dessa vez fui o vilão não avisei. Ana Clara corria como uma jogadora de futebol americano, e derrepente saltou em direção ao Felipe. Por pouco segundos fiquei arrependido achei que ele tinha morrido, ela o amassou contra a parede e ele chorou e disse que ia chamar seu pai. Eu ri e dessa vez ri muito. O sinal tocou o pessoal começou a entrar percebi que a Lívia e a Pollyanna conversavam talvez fossem amigas, o que não mudava nada, mas percebi, acho que talvez quisesse estar próximo a ela como a nova amiga, mas não como amigo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Se Peter Pan tem a Terra do Nunca eu tenho o Pedro II


Estou a caminho da escola novamente dentro de um ônibus quase vazio, ainda falta muito tempo para chegar à escola tudo estaria um tédio se nesse dia eu não tivesse aula no laboratório da escola com a professora Magda. Por mim passava todos os dias letivos lá. Passaram-se duas aulas e então chegou à hora de ir para o laboratório fui o primeiro a chegar, ela estava usando um vestido florido muito feio, mas nela parecia lindo. Os outros alunos entraram. Além de a professora ser linda, da matéria ser ótima o cenário era muito bacana, potes e mais potes com restos mortais de várias criaturas, aracnídeos, anfíbios, répteis, microscópios, um mapa do sistema circulatório humano e muitas outras coisas. Todos tinham que se dirigir até a mesa da professora para que ela carimbasse o caderno comprovando que cumprimos o dever de casa, quando chegou à vez da Lívia o livro dela caiu no chão, fui pegar para ela, entreguei, e ela agradeceu e sorriu. Nesse momento talvez alguém tenha aberto um dos potes e eu inalei muito formol e fiquei meio tapado, mas ela parecia ter luz própria à voz dela me fazia sentir bem.
Minha lista de conhecidos já havia aumentado, apesar de ter um bom papo mesmo somente com o Mário e o Mateus (primo da Lívia) conhecia um cara chamado Guilherme ele usava o cabelo bem grande e parecia ágil feito um coelho, Pollyannna uma garota linda muito educada que me lembrava uma das patricinhas de qualquer seriado juvenil, um cara chamado Felipe a representação do que chamamos hoje de filinho de papai, Grace que falava que era bruxa entre outros. A lista aumentou quando um cara chamado Marcelo entrou na sala, tinha certa inveja dele. O tipo de pessoa que move o mundo a sua volta com uma facilidade absurda, em menos de dois meses ele já era conhecido na escola tinha sua própria turma já havia brigado umas três vezes e ganhado todas elas e pegado mais garotas do que o Aloísio, ele gostava de conversar comigo, por que eu não sei, mas ele confiava em minha opinião. Pollyanna e Felipe tiveram algo, não sei o que ao certo, mas uma vez voltando do recreio vi a Pollyanna dizer:
-Faxineira é a mãe dele!
Comecei a ri. Será que ela queria ofendê-lo dizendo aquilo? Fui saber mais tarde que ele disse isso pra ela. Ri de novo e me fiz a mesma pergunta será que ele queria ofendê-la? Não havia relação com ocorrido, mas Marcelo veio com sua turma para bater nesse Felipe, mas aquilo seria um massacre o Felipe mal sabia correr atrás de uma bola quanto mais brigar com o Marcelo e aqueles caras. Marcelo segurou Felipe pelo pescoço e o colocou contra parede, um dos caras socou a barriga dele e nenhuma autoridade escolar aparecia então fui até lá, o Mário tentou me segurar. Quando cheguei perto um dos caras me segurou pela camisa ia me socar e o Marcelo gritou:
-Hei! Solta ele!
Bem, não tive medo. Mentira. Disse:
-Solta o cara Marcelo.
-Ele é um filho da puta Negão!
-E vai continuar sendo, mas solta ele antes que algum professor chegue!
-Que seja.
Marcelo o soltou e foi pra algum lugar o Felipe começou a chorar. Mário, Mateus e eu começamos a rir. A escola parecia cada vez mais divertida.

domingo, 31 de maio de 2009

A Incrível Arte de Matar Aula


Tudo que é bom dura pouco. Mariane passava por mim nos corredores e santo Deus se eu não soubesse que já a havia beijado diria que ela não me conhecia. Tudo bem melhor assim Daniel havia voltado à escola e preferia que ele não soubesse do ocorrido.Estava conversando com ele sobre o tempo que passou fora da escola e ele me ensinou algo valioso: A Incrível Arte de Matar Aula. Não demorou muito e me tornei perito na prática, um dia estávamos no pátio da escola, matando aula e havia umas garotas da 8º série nos observando do segundo andar, nos sobrepujando com seus corpos intocáveis seus papos sem fundamentos e corpos intocáveis (tenho que ressaltar). Daniel disse que eram vacas sem cérebro, pra mim não importavam elas continuariam lá e eu aqui no meu novo e querido banco. Uma delas fez um sinal Daniel pareceu esquecer que eram vacas sem cérebro ficou meio idiota derrepente uma delas disse lá de cima:
-Hei garoto vem aqui.
Daniel se levantou e ela disse:
-Você não. O outro.
Imaginei ter o poder de me camuflar como um cameleão se ficasse quieto talvez ela desistisse. Com certeza nada de bom elas queriam com um pirralho da 5ºsérie. Não funcionou.
-Vai ficar ai parado ou vai subir?
Resolvi subir e Daniel disse:
-Leve capim!
Subir as escadas. Os alunos da 8º eram apenas uma sombra da boa época do Pedro II acho que por isso nos desprezavam éramos uma nova época e eles eram o fim de uma. Havia um cara que todos temiam ou pareciam temer. Eu não sei o que havia, mas acho que ele tinha uma gangue ou algo assim, sabia que a sala na qual estava indo era a sala da namorada dele. Uma das garotas disse:
-Acho que a Mariane é uma vaca e você?
-Eu não.
Todas elas começaram a rir. Pra mim não pareciam vacas e sim galinhas, há muitos galinheiros em Vespasiano e aqueles em que entrei tinha o mesmo som. Uma delas me levou para dentro da sala e como em um roteiro mal elaborado não houve surpresa quando vi a namorada dele lá, seu nome Ana Lúcia estava sozinha na sala tinha um pouco de pó de giz muito bem enfileirado na mesa dela e uma carteirinha estudantil, ela disse:
-Qual é seu nome?
-William.
-Não é assim que se conhece uma garota.
-...
Ela segurou em minha mão e me deu três beijos alternando entre as bochechas. Chamou uma das garotas, que me levou pra fora da sala e disse:
-Sortudo!
Que saudade da escola Jorge Ferraz lá também as pessoas eram estranhas, mas suas atitudes pareciam fazer algum sentindo.
O sinal soa informando a troca de aula. Na grande arte de matar aula é preciso saber que a gula pode te levar para maus caminhos então nunca é bom matar duas aulas seguidas, corri para a sala.
Um cara chamado Mário me pergunta onde estava respondi ele ficou rindo. Ele me lembrava eu mesmo na 2º série quando era o c.d.f não demorou muito e ficamos amigos.
Daniel disse que ainda estavam atrás dele que precisava se proteger fomos matar aula de artes no banheiro e ele me mostrou uma arma, eu disse:
-Caralho! Vou voltar pra sala.
-Calma cara, não ta carregada.
E daí? Pensei. Se pegassem a gente ali tenho certeza que isso não faria diferença fui pra sala de aula. O professor perguntou onde eu estava e eu respondi:
-Na reunião de representante de turma.
Porém eu não era representante, mas ninguém disse nada quando fui me sentar uma garota chamada Nádia me cumprimentou.
Daniel saiu do colégio definitivamente não sei o que houve com ele, fui perguntar a Mariane e ela disse que ele saiu de casa e mais nada.
Mário e eu nos divertíamos bastante ele me achava engraçado e me ajudava em algumas matérias e eu explicava sobre desenho e filmes. A vida parecia seguir bem no Pedro II

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Primeira Grande Pisada na Bola


Lá estava eu andando pelos corredores da escola como se todos soubessem do ocorrido dias atrás. Sentia-me um rei. Mas na verdade ninguém sabia de nada, eu não era nada ali a não ser mais um pirralho da 5º série. Assim eu pensava. Não sei se foi o Aloísio ou a Mariane, mas alguém contou pra alguém que contou pra alguém e derrepente eu realmente estava andando pelos corredores e um grande número de pessoas parecia saber de algo. Ouvia coisas como “É esse ai? Poxa a Mariane não dá mole mesmo” “Hei quantos anos tem?” e então ouvi algo que realmente me preocupou “Vou contar pro Daniel hein!” O Daniel não dava as caras no colégio há muito tempo, mas sabia que ele ia voltar. Não havia o que fazer se não esperar.
Divertia-me bastante nas aulas de Educação Física mais com o cara do professor do que com a aula, ele parecia o Leôncio do desenho do Pica-pau. O aquecimento era chato. Depois do aquecimento alguns alunos iam jogar vôlei outros futebol e outros basquete. Sempre me chamavam pro basquete acho que por causa do meu tamanho depois de uns minutos viam que eu não era bom. Mal sabiam eles que no futebol eu era pior. O professor observou que eu não era bom e então treinava passes comigo, depois de um tempo aprendi e então começaram a me chamar de novo, mas agora por que eu tinha pegado o jeito. Sempre havia algumas garotas que não faziam nada na Educação Física elas sem dividiam entre assistir os garotos praticar futebol e basquete ou ficar em algum canto com suas coisas rosas falando sobre sei lá o que. Certo dia percebi que aquela garota que entrou atrasada na sala, que usava tranças (a que citei no texto O Primeiro Grande Beijo) estava nos assistindo, não sei o que houve, mas quando fui passar a bola quase quebrei o nariz de um garoto chamado Guilherme, ele gritou:
-Atenção ai Negão! Tira os olhos da Lívia porra!
Lívia. Era esse então o nome dela.
Todo santo recreio ou intervalo como os alunos mais velhos falavam, a Mariane vinha pra minha sala e ficava abraçada comigo. Certo dia ela me perguntou quando íamos fazer. Qual era o problema das pessoas? Ou será que o problema era comigo? Houve certos momentos da minha vida que as pessoas pareciam falar grego. E esse era um deles. Será que todos viram algo que eu não vi, leram algo que eu não li. Ou talvez ocupei toda a parte do meu cérebro que entenderia essas questões com informações sobre quadrinhos animes e filmes. Como eu não respondi nada ela voltou a perguntar:
-Então quando nós vamos fazer?
-O que?
-Você sabe...
-Na verdade eu não sei
Ela me soltou me fitou profundamente como se procurasse por mentiras em minhas palavras e disse:
-Você esta se fazendo de bobo por que? Tem alguma outra garota que você esta olhando por acaso?
-...
Ela foi embora pra sala dela e nunca mais voltou a me procurar. Aloísio apareceu como sempre, e perguntou por onde andava a Mariane, contei-lhe o ocorrido ele me explicou com bastante calma o que a Mariane queria fazer, e então percebi por que as pessoas falavam palavrões e disse:
-Puta que pariu!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Primeiro Grande Beijo


Ainda no ponto, faltavam 5 minutos pra abrir os portões, e então eu conheceria o Pedro II, havia uma multidão de alunos que eu nunca tinha visto antes, ali eu deixei de ser o maior para ser um dos menores tive medo de tanta gente. Decidi que iria esperar todos entrarem para depois eu entrar. O Sinal fechou para os carros e eu atravessei a Avenida Alfredo Balena, em direção ao colégio, o medo se fora e eu estava muito ansioso. Entrei no colégio, a mulher da portaria disse “esta atrasado", ouvi isso pelos anos seguintes.
Nesse turno estudam alunos da 5º a 8º série, perguntei a uma mulher muito bem vestida onde seria minha sala, ela me olhou por cima dos óculos e disse:
-Desça as escadas procure seu nome na lista que esta grudada na porta, e vá rápido!
Lá estava eu e mais uns 150 novatos da 5º série procurando seu nome na lista, decidi ir de trás pra frente, as salas eram 131, 132, 133, 134, e 135. Fui na 135 e lá já havia alguns alunos sentados, não precisava ser muito esperto para ver que eram repetentes, pareciam muito mal encarados, colocariam Gil no chinelo. Não me dei ao trabalho de verificar a lista dessa sala, concerteza meu nome não estaria ali. Lá estava eu já havia verificado as listas umas duas vezes e era óbvio que minha sala era a 135, me dei por vencido e fui até lá, a sala não estava cheia como as outras, meu nome era o último da lista. Entrei e me sentei. Não duraria uma semana ali. Suely era um lugar pequeno, sabia onde a maioria dos meus colegas morava, as mães de alguns eram amigas da minha, querendo ou não eu conhecia aquele terreno, mas aqui nada me é conhecido. Ha um garoto que deve ter uns 14 anos, me observando, mais tarde fico sabendo seu nome Daniel, juraria que iria me roubar. Soa o sinal e da janela da sala vejo professores se encaminhando para as salas, um deles se encaminha para minha, escuto ele dizer:
- Não é essa. Ainda bem.
Como assim ainda bem? Por que ele disse isso? Passa-se algum tempo e nenhum professor aparece, Daniel para de me encarar, se levanta e começa a andar em minha direção. Já não sinto mais medo, o que eu poderia fazer afinal? Fiquei tranqüilo. Ele senta perto de mim encima de uma mesa e diz: - Esquenta não, todo ano é assim. Qual o seu nome?
-William. E o seu?
-Daniel. Mora aonde?
-Vespasiano.
-Caralho! Onde fica isso?
Ouvi isso pelos próximos anos. Antes que eu respondesse uma garota entrou na sala correndo. Tinha um corpo como nunca tinha visto antes no Jorge Ferraz, me senti um panaca, mas não consegui parar de olhar para ela, tinha o cabelo ruivo cacheado que chamava muita atenção seios fartos e pernas lindas. Ela disse alguma coisa pro Daniel e saiu correndo de novo. Perguntei:
- Quem é?
- A chata da minha irmã.
-Parece legal.
-Parece porra nenhuma!
Calei-me. Finalmente um professor entra na sala, não diz nada de importante, fala sobre a escola e regras, e sobre a matéria que iria lecionar. Só conseguia pensar, que meu ônibus estaria lotado quando desse à hora de ir embora, 17h30min o sinal tocaria para a liberdade e a carruagem viria me buscar as 18h00min, mas viria lotada de pedreiros e diaristas, nada contra só que todos pareciam fazer parte de um contexto, e eu não. Eles conversavam sobre o dia e reclamavam dos patrões. Eu era o garoto “da escola do centro da cidade" como ouvir muitas e muitas vezes.
Depois de algum tempo o sinal soa novamente o professor sai, mas nenhum professor aparece. Daniel se aproxima e diz:
- O quê que você ouve?
-O que?
-Que tipo de música gosta cara?!
Nunca haviam me perguntado isso. Eu ouvia Antena 1, por que minha mãe escutava e até gostava, ouvia moda sertaneja, e músicas que falavam do sertão e também gostava muito. Daniel não pareceu gostar muito e disse:
-Vou te emprestar umas fitas cassetes de rap ai você vai sacar.
Era como quando o Ladislau falava, eu não entendia o que ele estava dizendo, o que eu iria "sacar"? Mas não fazia diferença. No outro dia ele levou as fitas. Ha algo de diferente na sala, esta cheia como as outras, e ha mais pessoas que parecem estar na mesma faixa etária que eu, o que me conforta. Estou sentado no meio da sala, não me recordo que aula era, mas estávamos tendo aula, uma garota chega atrasada e pede desculpas ao professor, ele a deixa entrar e adverte:
-É a última vez!
Ela caminha procurando um lugar para sentar, seu cabelo esta trançado, é magra olhos negros, pele morena clara e não parece se importa com ninguém na sala, mas não ha desprezo em seus olhos. Ela é linda, uma beleza que me causa uma reação estranha, penso e digo:
- Essa garota é linda. Essa garota é minha.
Ha um cara atrás de mim que me ouviu e diz:
-Hei ela é minha prima!
Virei-me e disse:
-Meu nome é William.
-O meu é Mateus.
-...
-...
-Gosta de dragon ball?
-Doido demais.
Ficamos falando de desenho durante toda a aula.
Ouvir as fitas de rap fiquei admirado com a capacidade de rimas e o peso das letras, ao contrário do tudo que já havia escutado o rap tinha uma agressividade muito forte. Mas nada daquilo fazia sentido para mim. Mas parecia fazer bastante pro Daniel, ele me disse que morava em uma favela, e que lá as coisas tinham seu jeito de funcionar, disse que houve um roubo e que o acusaram, e ele teria que sumir por uns tempos. Daniel ficou sem aparecer na escola por muito tempo. Nesse período um cara chamado Aloísio entrou na sala, o cara tinha um carisma absurdo, as garotas viviam atrás dele, diziam que ele era lindo, e os caras diziam que ele era legal. Não sei por que ele grudou em mim, estava sempre perto de mim contando algum caso, parecia entender de tudo um pouco e principalmente de mulheres, fiquei sabendo que era podre de rico, mas um tremendo sem noção havia sido expulso de várias escolas particulares e por isso estava lá no Pedro II. Comecei a entender como funcionava a escola, o sistema de hierarquia também funcionava aqui, e eu estava no baixo escalão 5º série. Os caras da 8º série estudavam no segundo andar, eles literalmente nos olhavam de cima pra baixo. Todas as séries pareciam ter sua importância, mas não a 5º série. Essa regra parecia não funcionar para o Aloísio, até os caras da 8º trocavam idéia com ele.
A escola era rígida, não poderíamos ficar sem uniforme nunca. Havia o uniforme da aula em sala e o dá educação física. Certo dia a irmã do Daniel apareceu na sala desesperada e me pediu emprestado minha camiseta de educação física, emprestei. O último sinal soa é hora de ir para casa, espero na portaria pela minha camiseta, e nada. Aloísio estava comigo e disse:
- Relaxa cara.
- Como relaxa? Se ela tiver roubado minha camiseta eu tô ferrado!
Ela aparece na porta e faz um sinal. Aloísio me empurra, fui até ela. Segurou em minha mão e começou a me guiar pelos corredores, à escola estava vazia, me apaixonei por aquela visão. Ali decidir que a escola era minha. Ela me puxou para dentro de uma sala, fechou à porta, a luz estava apagada somente a claridade do resto do dia preenchia a sala, ela tirou a mochila. Seu nome Mariane, 6º série. Ela disse:
- Achou que eu ia levar sua camiseta embora?
-Não
O que na verdade era mentira. Ela tirou a camiseta na minha frente, lembro perfeitamente da cor do seu sutiã, vermelho. Dobrou e me entregou. Guardei na mochila. Ela levou minhas mãos até sua cintura e disse:
-Obrigado por confiar em mim.
Caralho! Pensei
-De nada, sempre que precisar.
Disse eu. Ela começou a me beijar e minha mão a explorar. Como fiquei feliz. Depois de uns minutos ela vestiu uma blusa e saímos. Ela seguiu seu caminho e eu o meu.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A primeira gangue... Na verdade a única.


4º série. A diretoria tem um plano de ação para melhorar o desempenho da primeira turma de formandos da escola, separa a minha antiga turma em duas e a da sala problemática também e as mescla. Então conheço dois que na verdade eram três contando com o Ladislau, garotos mais temidos do colégio, que até então não sabia que existiam fora o Ladislau. Gil e Japinha. O primeiro tinha uma aparência ameaçadora não tinha que fazer muito pra intimidar alguém, o segundo era um verdadeiro demônio, suas peraltices atingiam um nível sádico. Não sei como souberam de minha existência e nem por que queriam me bater, mas me ameaçaram até mesmo o Ladislau que andava comigo começou a me ameaçar. O que eu poderia fazer; chamar o Aldo pra uma briga contra os três seria o mesmo que chamá-lo para brincar de dá soco no arame farpado. Aldo nunca brigou, eu tinha apenas uma em meu currículo, e eles tinham mais de 30 brigas cada um com certeza. Um cara chamado Washington entra na escola, novato com dois anos a mais e vindo de outro estado (não me recordo de onde) assim como todos da sala ele sabia das articulações de Ladislau, Gil e Japinha contra mim. Sugeriu-me "ligar capanga" (brincadeira onde quem ligou capanga tem que comprar a briga do amigo em qualquer situação). Ele me disse que se eu partisse pra cima antes, eles iriam recuar. Quando a professorar saiu da sala, me levantei e fui até a mesa do traidor Ladislau e joguei seu material escolar no chão, quando ele ia se levantar empurrei a mesa contra sua barriga ali ele ficou, achei que ele ia vomitar. Japinha partiu pra cima sem pestanejar junto com Gil, não sei quando Washington apareceu e nem como o fez, mas ele derrubou os dois, Japinha era muito rápido levantou e pegou um lápis e disse que ia enfiar no cú do novato, Gil não disse nada somente levantou e acertou Washington na boca do estômago, peguei Japinha desprevenido, com um chute bem na costela, ele disse algo sobre minha mãe, quando dei por mim Gil e Washington estavam sangrando, aquilo fez parecer Ladislau Japinha e eu grandes panacas, por que aquilo sim parecia briga de verdade a professora entrou na sala, alguém denunciou tudo em poucos segundos, idiota. Fomos todos para diretoria nada houve além de falatório desnecessário, quando voltamos pra sala havia um aluno novo. Igor pequeno comparado a mim, ou ao Ladislau Gil Japinha e principalmente Washington, mas forte. A professora colocou todos nós na mesma fileira Gil era o primeiro, Japinha o segundo Igor terceiro Washington quarto e eu em quinto, nunca havia sentado na última carteira, nunca me senti tão bem na sala, podia ver todos e ainda me prevenir contra Gil e Japinha. Ladislau não se atreveu mais comigo, acho que o lance de assustar atacando primeiro funcionou contra ele. Dias depois Washington sai do colégio, nunca soube ao certo, mas me parece que ele voltou a sua terra natal, Aldo ocupou o lugar dele na fileira. Gil e Japinha combinaram de bater em mim e no Aldo no fim da aula, Aldo disse que não ia se envolver, eu disse a ele que iria apanhar mesmo assim. Fiquei ansioso, todos os alunos sabiam , sabia que ia ser observado por todos, sabia que ia apanhar, mas mesmo assim, se eu não fugisse ganharia respeito com toda a escola, por que era assim que funcionava. Eu tinha uma vantagem, eu era muito mais rápido do que Gil e Japinha. Tinha facilidade em me esquivar, talvez não fosse uma derrota tão feia assim.
No fim da aula, já fora da escola uma grande roda se fez ao nosso redor, Aldo virou as costas e se despediu como se nada estivesse acontecendo, vi Japinha acerta uma “voadora" (corre e salta com um chute) bem no meio das costas de Aldo ele caiu, fiquei encarando Gil. Japinha veio em minha direção com o mesmo golpe desviei segurei sua perna e atingi sua virilha ele saiu gritando, mas sabia que ele poderia voltar, Gil veio andando em minha direção e tentou um soco de direita, desviei, outro e desviei, e então ele tentou um chute, um chute absurdo, no qual de perto ele tentou acertar o meu rosto, desviei com facilidade, ele caiu com o peso do próprio corpo e ralou muito a perna a ponto de sangrar, o Japinha começou a rir dele, em seguida foi o Aldo depois todos que estavam assistindo. Fui até o Aldo o ajudei a se levantar e fomos embora. No dia seguinte cheguei atrasado à aula quando entrei na sala Gil me deu um soco no ombro e disse que estávamos quites. Não estávamos nada, mas pra ele sim. Pra mim tudo bem, talvez a sorte não estivesse do meu lado na próxima vez.
Igor se enturmou tanto comigo e com o Aldo como com Gil e Japinha, não demorou muito e estávamos todos andando juntos pra lá e pra cá falando de garotas, mais mentiras do que verdades e se divertindo, Gil se tornou uma espécie de líder do grupo, eu era o cérebro sempre ajudava a todos nas matérias em que tinha dificuldades, e controlava o gênio de Gil assim como as peraltices de Japinha, apesar de no fundo me divertir bastante com elas, como a vez em que ele colocou tarrachinhas do mural na cadeira da professora e ela sentou e se feriu ninguém riu somente Japinha e eu. Tornamos-nos o grupo de alunos mais temidos do colégio e ganhávamos as melhores notas da 4º série, não tinha por onde nos atacar, não enfrentávamos fila pra merenda e nem éramos obrigados a sentar na mesa como todo mundo, Gil Japinha Aldo Ladislau Igor e eu, sentávamos no jardim comiamos como queríamos e o melhor quantas vezes quiséssemos. Uma de nossas primeiras ações como um grupo já formado foi dá uma bela surra no cara que nos dedurou, no dia em que o Igor tinha entrado no colégio. Isso tudo foi bom até um certo ponto, depois ficou monótono não havia com quem brigar, ou quem sobrepujar, não havia mais nada a se fazer. Havia uma garota que se sentava na última mesa da fileira do lado da minha, seu nome Tatiane, nunca tinha reparado nela, mas nesse dia seu cabelo estava lindo, solto e preto muito preto, sua pele branca fazia um contraste muito bonito com seu cabelo, tinha lábios exuberantes, e um rosto muito delicado. Pensei onde estava com a cabeça por nunca ter reparado nela, onde estava com a cabeça quando achei a Ana Paula um padrão de beleza. Diferente dos outros anos, eu não era o garoto gordo, ou c.d.f da sala, não tinha com o que me preocupar, nos havíamos criado uma utopia, e nessa utopia eu poderia escolher a garota que quisesse, escolhi a Tatiane, e as garotas da sala fizeram um alvoroço. Disse que queria conversar com ela após a aula. Ela acenou com a cabeça e ficou muito vermelha. Quando todos haviam saído da sala segurei em sua mão e lhe dei um beijo na boca (como a estagiaria fez comigo) e disse a ela que queria fazer aquilo sempre por que gostava dela, ela disse que também gostava de mim, a beijei de novo e fomos embora. Depois de algumas semanas, Gil disse para mim que eu deveria comê-la o mais rápido possível, eu ainda não fazia idéia do que era isso, mas desta vez indaguei ao Gil e ele disse “Que isso, você sabe cara" na verdade ele mesmo não parecia saber do que se tratava. Já era fim de ano, e o destino de todos era o colégio de ensino fundamental e médio Romualdo todos pareciam muito ansiosos, o colégio era maior com muitos mais alunos tudo seria diferente, minha mãe me avisa que iria me cadastrar no colégio Pedro II em Belo Horizonte, quando dei a notícia na sala senti a mesma repressão de que quando tinha vindo de outro colégio, até os caras, fora o Igor, ficaram estranhos comigo, Tatiane chorou e eu estava feliz.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Ainda no ponto de ônibus.


Na 1º série pediram para minha mãe me cadastrar em outro colégio, alegaram que eu atrapalhava o ensino dos outros, minha mãe pediu para que eu pudesse fazer uma prova e assim ir para uma turma mais avançada já que eu estava um pouco adiantado perante a minha atual turma, a direção negou e minha mãe me transferiu para outra escola. Novamente 1º série. Os alunos ficaram sabendo por que fui transferido, conheci muita gente por isso, o que não quer dizer que fiz muitos amigos.
Ainda estava lá parado no ponto de ônibus enfrente ao colégio Pedro II, faltavam 20 minutos ou mais para minha primeira aula começar, por algum motivo me lembrei da outra escola, Escola Municipal Jorge Ferraz onde cursei 1º a 4º série.
A 1º série foi um inferno, errava provas de propósito para não precisar ser transferido, afinal podia ir a pé pra escola. 2º série conseguiu ser pior ainda apesar de ter seus momentos, como a festa Junina, campeonatos de esporte e outras atividades. E também foi a primeira vez que fui pra diretoria por mau comportamento. Por desrespeitar o hino nacional. No mesmo ano visitei a sala novamente por bater em um colega de classe que me chamou de gordo, eu era gordo. Por motivos menores via alunos ficar de suspensão por dois ou três dias, mas comigo não era assim, achava que era a influência política da minha tia, por ser conhecida do prefeito, mas depois descobrir que minha persuasão não era das piores. 3º série ha um sentimento de união muito estranho na sala, todo mundo parece ser amigo um do outro e a professora além de linda, era extremamente gentil com todos, ganhamos todos os campeonatos de conhecimento do ano e ficamos como sala referência da escola, enquanto a outra turma da 3º série teve que trocar mais de duas vezes de professor e conseguiu ter a pior nota do ano, pelo menos uma vez por semana tinha briga naquela turma, era estranho, mas sentia um pouco de inveja deles. Havia uma garota, acho que se chamava Ana Paula, muito educada, loira, olhos verdes, parecia mais desenvolvida que as outras garotas. Sentia-me atraído por ela, assim como todo garoto da escola. Eu e mais dois alunos somos chamados para dá reforço em matemática para alguns alunos após a aula, ha estagiárias na sala nos acompanhando uma delas me pergunta:
-Hei garoto, você já beijou na boca
-Já.Mentira. Ela se aproxima e me beija, um beijo rápido sem língua. Acho estranho, mas não acho ruim. Na verdade nunca fui do tipo de chamar a atenção das mulheres, tudo bem já não era mais o garoto gordo da sala, mas mesmo assim... Enfim. Conheço um dos caras da sala problemática, seu nome era Ladislau, ou algo que soasse assim. Sempre fui um pouco maior que o resto dos alunos, mas ele era maior do que eu, ele disse que sabe de um ótimo campo pra jogar bola depois da aula, digo que encontro com ele depois. Encontrei com ele, fui até o tal lugar só estava ele e meu primo não havia nada, só mato e um cavalo, o ladislau corre até o animal e bate com o chinelo na bunda do cavalo, nunca corri tanto na minha vida ninguém se feriu. Depois disso Ladislau começa andar comigo no recreio e a falar da Ana Paula, nada digo sobre gostar dela, ele diz que quer comê-la, não faço idéia do que ele quer dizer, assim como muitas coisas que ele dizia. Dias depois ele a beija na boca de língua no meio do recreio, foi uma cena horrível, parecia algo mal feito. Não demorou a ter boatos de que ela estava grávida, achei engraçado fiquei imaginando ela tendo que ir de barrigão pra escola. Um cara chamado Aldo muito tímido, começa a andar comigo gostava de falar de vídeo game e desenho animado isso me bastava. Descobrir que ele tinha problemas em casa, mas ele não queria falar sobre isso e nem eu, não havia o que dizer. Ainda no mesmo ano recebo um bilhete assinado pela Ana Paula dizendo que queria se encontrar comigo na sala de aula durante a educação física. Digo á professora que estou passando mal e não posso ir aula de educação física. Espero. Uma garota chamada Daniele entra na sala, seus olhos pareciam de uma lêmure e seus ombros pareciam querer tocar as orelhas. Saquei toda a idéia e saio da sala. Dias depois tenho a melhor aula de todas até então. Todos os alunos da classe foram para o jardim e deitamos na grama, o dia estava claro o sol brilhava sem incomodar e havia muitas nuvens, o exercício era observar as nuvens e depois por escrito dizer o que vimos, e o com que as nuvens se pareciam. A maioria comparou as nuvens com animais, eu também, mas para mim pareciam que queriam dizer algo, ou estavam indo ou vindo de algum lugar. Lembro que relatei sobre um coelho gigante que me observou por muito tempo até o vento o levar para o próximo salto onde poderia encontrar outra criança onde apenas a observaria do alto, de longe, no silêncio.

Introdução

Sinceramente detesto essa idéia de blog. Ou melhor, talvez não goste apenas do que vi feito disso até hoje, salvo uma pérola aqui e acolá, sempre ha mais do mesmo.
Ha um tempo um amigo me pediu pra fazer um blog, eu recusei. Outra amiga me pediu a mesma coisa recentemente, perguntei qual era a fascinação, o que ha de especial em tudo isso. Ela simplesmente disse “faça que quero ler”. Não foi uma boa resposta, mas me convenceu. Como pretenso escritor um pedido desses é difícil de negar.
Pensei sobre o que escrever, entre expor minha opinião sobre cinema, teatro ou música, falar de jogos e simplesmente lançar idéias ao vento, escolhi contar uma história, e por se tratar de um fato verídico vou aqui mudar os nomes dos envolvidos. Totalmente inspirado em Charles Bokowski, Misto Quente. Não ha nada que eu vá escrever que chegue perto de sua obra, não levei surra suficiente na vida (não ainda). Mas chega de falar de "escrever" como ele mesmo disse, "Quem fala de escrever são panacas”.

O ano era 1999 todas as pessoas com quem convivi da 1º a 4ºsérie estavam ansiosas, pois iriam estudar no mesmo colégio em um bairro próximo. Eu, por vontade da minha mãe iria começar a estudar em Belo Horizonte no bairro Santa Efigênia. Moro em Vespasiano em um bairro chamado Suely 60 minutos de ônibus até minha nova escola.
Ano 2000, primeiro dia na nova escola. Não consigo dormir bem por causa da ansiedade. Tenho 10 anos. Começa uma viagem de ida e vinda da minha casa ao colégio Pedro II que duraria sete anos. Estudaria no turno da tarde, assim daria para salvar ao menos a rotina da manhã, café e desenhos animados. Entro no ônibus e imagino qualquer desastre que poderia causar minha morte. No percurso, a condução passa por entre duas fazendas de gado, são quase 10 minutos de vista verde do lado esquerdo e direito do ônibus, não ha muitas pessoas nesse horário, caio no sono e sonho que estou correndo na velocidade do ônibus e que dou grandes saltos e derrepente estou voando. Acordo e minha mochila esta quase caindo, tenho a sensação que dormir demais, mas estou na metade do caminho ainda, volto a imaginar algum meteoro caindo sobre o ônibus ou o carro se chocando com um caminhão. Chego ao meu destino, desço do ponto que é enfrente ao colégio, basta atravessar a Avenida Alfredo Balena. Colégio Pedro II fundado em 1925 inaugurado em 1926 tombado pelo patrimônio histórico e artístico em 1982 e pelos milhares de alunos que ali deixaram suas marcas, pichações, depredações e tudo que me é visível ainda do meu ponto de ônibus. Sinto medo.